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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A linha tênue entre o pentecostalismo e o pentelhismo

Passar por situações desagradáveis nas ruas infelizmente virou rotina na minha vida e duas das mais recentes tem o mesmo tema que é a cagação de regra com o suposto aval de determinada religião.

A primeira foi logo pela manhã na saída do hospital quando fui marcar uma consulta importante. Tive sorte pois o atendimento não demorou tanto e consegui uma data bem próxima, algo que costuma ser raro. Saí de lá contente e otimista, o que também não é comum, e segui meu caminho pra fazer todas as outras tarefas daquele dia. Logo depois da saída um senhor estava entregando folhetos da igreja dele e não peguei, afinal não sou obrigada e não me interessa. Depois de dois passos o cara começou a gritar: "QUE JESUS SALVE A SUA ALMA!". Nem virei, mas respondi que minha alma tá de boa e ele insistiu berrando: "QUE ELE TE AJUDE A TROCAR AS VESTE!". O dia tava bom demais pra eu ter que engolir sapo. Respondi sem gritar: "e que você abra essa sua mente fechadinha e tenha mais educação com as pessoas".
Meu figurino asqueroso e indecente foi camiseta, legging, um moletom amarrado na cintura e tênis. Na vez seguinte foi dentro de um ônibus quase lotado. Outro dia cansativo, eu só queria chegar em casa e a primeira coisa que fiz quando sentei no banco foi pegar meus fones de ouvido pra ouvir música. Só de lembrar fico com raiva. Um dos últimos a passar pela roleta foi um senhor baixinho de terno, gravata e uma bíblia preta. Ficou em pé, começou a gritar e apenas fiquei olhando a paisagem pela janela pois as nuvens estavam bonitas. Pelo visto o cara se incomodou demais com minha sutil indiferença e se posicionou ao meu lado. No momento em que ele descaradamente começou a me usar de exemplo devido ao meu decote, apenas aumentei o volume e permaneci firme fazendo a maior egípcia da minha história até então. Senti gotículas de baba na minha cara, braço direito e decote. Ele provavelmente estava berrando todos absurdos possíveis e impossíveis. Percebi pessoas que estavam na minha frente virando suas cabeças pra me olhar torto. Enquanto o desgraçado encostava a bíblia no meu ombro, só respirei fundo e concentrei na canção seguinte: I Am a God do Kanye West. Amo/sou modo aleatório.
Depois de uns quinze minutos o indivíduo desistiu, desceu e minha tensão diminuiu. Mantive a postura até a minha parada e no caminho para a porta de saída todo mundo olhou pra mim. O tal decote da minha blusa de bolinhas nem estava tão profundo e nem duvido que antes de toda a palhaçada aquele hipócrita maldito tenha cobiçado meus seios.

Seria isso falta de amor próprio? Cadê que esse tipo de gente pratica aquela parte da bíblia que diz sobre amar o teu próximo como a ti mesmo?
Só RuPaul salva.

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